Aníbal C. Pires é natural de Castelo Branco, e reside em São Miguel desde 1983, quando começa a exercer a docência na Escola Básica Integrada Roberto Ivens, e depois noutras instituições escolares dos Açores até à sua aposentação em 2021. É desde há muito militante do Partido Comunista Português, e foi deputado à Assembleia Legislativa Regional dos Açores durante os mandatos de 2008-2016. A sua extensa atividade política e cívica nas ilhas é uma constante da sua vida dedicada às causas que defende, desde questões relacionadas com as migrações dos nossos tempos à representação sindicalista da FENPROF, sendo neste momento Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sindicato dos Professores da Região Açores. Lado a lado a tudo isto e algo mais, é autor de uma notável obra literária dividida entre poesia (O Outro Lado – palavras livres como o pensamento, Esperança Velha e outros poemas), crónica (Toada do Mar e da Terra Volume I), ensaio (a sua tese de mestrado Imigrantes nos Açores – representações dos imigrantes face às políticas e práticas de acolhimento e integração), e ainda ficção (O Encanto dos Sonhos). Tem sido colaborador de vários periódicos ao longo dos anos, e da nossa rádio e televisão. Atualmente é colunista do Diário Insular, de Angra do Heroísmo, e mantém o blogue intitulado Momentos.
A presente entrevista faz parte do que tenciono desenvolver com alguns escritores açorianos sobre a sua visão respeitante ao que entendem ser o lugar da literatura em sociedades cuja historicidade as condicionou, e que atualmente se encontram na encruzilhada da modernidade, num mundo em ebulição quotidiana ante novos e radicais desafios da vida da mente e do ato literário em busca, sempre, do seu significado no caleidoscópio humano em qualquer geografia ou comunidade.
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Já tens uma bibliografia considerável, particularmente no ensaio, crónica e poesia. O que tem motivado a tua escrita ao longo destes anos?
As motivações são diversas e estão ancoradas nos princípios caraterizadores da minha vida pessoal, profissional e pública e com as “obrigações” inerentes ao ofício no qual construí uma carreira de que me orgulho. Os encargos profissionais a que me refiro não se constituem como deveres ou conteúdos funcionais da docência, foi uma opção pessoal por entender que ser professor é, também, ser um interventor social. Mas ainda antes de precisar a resposta à tua pergunta, permite-me fazer uma breve introdução sobre o percurso que me trouxe até aqui.
A atividade como autor tem a sua génese nas páginas dos jornais regionais, aliás instrumento do qual, nem todos, mas alguns autores e escritores de renome utilizaram para iniciar e exercitar a construção literária de que hoje são verdadeiros mestres. O que, sem falsas modéstias, não é o meu caso. Não sou um autor que trabalhe as palavras como o fazem alguns artífices da poesia e da literatura que as lapidam como se de diamantes se tratassem, depurando cada frase, cada parágrafo para conferir à sua obra um brilho singular e a dimensão literária que lhes reconhecemos e admiramos. Eu sou apenas um aprendiz de obreiro da escrita e a mais não anseio, o que já me satisfaz, face a tudo o que tenho feito ao longo da vida.
A escrita e a partilha de opinião entraram nas minhas rotinas tardiamente, só em 2003 (aos 47 anos) iniciei a publicação de textos de opinião na imprensa regional, que ainda mantenho, tendo apenas interrompido entre 2019 e 2021.
Em março de 2008, com a criação do blogue “momentos”, a escrita assumiu outros contornos e dei início à publicação dos primeiros textos poéticos, num processo que resultou, em grande parte, das deambulações pelo arquipélago (ainda antes de ser eleito deputado). A entrada na blogosfera constituiu-se, seguramente, como uma nova etapa neste aspeto particular do meu percurso que mais tarde levou à publicação, em livro, de crónicas, poesia, e um conto infantojuvenil. Tenho também alguns ensaios académicos, na área das migrações, dispersos por publicações especializadas.
A principal motivação que está na génese deste percurso pela escrita resulta, em primeira instância, do dever cívico que decorre, em grande medida, do exercício da profissão que escolhi. Ser professor, tal como o entendo, não se reduz apenas à transmissão e partilha de conhecimento em contexto de sala de aula. O professor deve ser, sem a tal estar obrigado, um agente cultural e um interventor social. Muitos docentes assumem esse papel sobre as mais variadas formas, no associativismo desportivo, cultural e de solidariedade, ou seja, integrados e com intervenção na sua comunidade. O meu percurso até chegar à escrita está recheado de exemplos de intervenção nas comunidades de pertença e na promoção de iniciativas de inclusão e afirmação da diferença.
A escrita hoje é um porto onde me abrigo sem, contudo, me acomodar. Os textos que publico não são anódinos, mas não impõem verdades absolutas e procuro, sempre, deixar espaço para a reflexão dos leitores, procurando contribuir para que formulem a sua própria opinião.
O tempo em que grafo no papel as palavras sendo prazeroso e solitário não é de autossatisfação, o tempo e o objeto que estão associados à escrita que tenho partilhado através das publicações em livro, ou no blogue. É, ainda e sempre, um tempo de partilha e de intervenção. É, ainda e sempre, o professor que habita em mim, pois ser professor é ter a capacidade de tornar comum o conhecimento, mas também criar espaços de reflexão que induzam o pensamento crítico e a autonomia.
O imaginário que sobressai de todos os teus livros está centrado nos Açores, desde a prosa de Toada do mar e da terra à poesia de Esperança Velha e de O Outro Lado. Onde ficam as tuas origens continentais?
Tudo isto para te dizer que a minha escrita está, natural e profundamente, ligada aos Açores sem deixar, contudo, de estar embebida nas origens beirãs e, de uma certa forma universalista de ser e estar no mundo. As geografias podem ser distantes e culturalmente diferenciadas, mas o que nos aproxima suaviza as diferenças, afinal somos humanos e essa condição, entendida como uma pertença na diversidade, é decisiva para que a produção literária e outras artes, independentemente das geografias onde é criada, tenham algo que nos acerca. Por mais que as distâncias culturais nos separem, a expressão artística evidencia as raízes ancestrais que temos em comum, ou dito de outra forma, para chegarmos à inteligência artificial primeiro foi necessário inventar a roda e domesticar o fogo. Foi um longo caminho com muitas encruzilhadas e diferentes percursos que deram origem a uma diversidade de civilizações e culturas, mas todas elas com uma raiz comum (humana), mas nem sempre devidamente reconhecidas e respeitadas o que teve (e tem) como efeito a justificação para alguns dos mais hediondos crimes contra a humanidade.
Perdoa-me estas divagações. Estes devaneios acontecem-me com frequência deve ser uma patologia qualquer relacionada com a atenção, ou à incapacidade de reduzir as questões que me são colocadas a respostas lineares, talvez por que nem tudo é tão simples como por vezes parece, ou talvez seja mesmo um problema só meu, mas no emaranhado das palavras ditas a tua pergunta já terá tido a sua resposta algures por aí perdida nos parágrafos anteriores.
A encerrar a questão sempre te direi que viver nos Açores teve importância em todos os aspetos da minha vida. Quando me fixei definitivamente na Região já trazia comigo o engajamento político e social, o casamento, duas filhas e estava integrado na carreira profissional. Depois veio mais um filho, nado e criado em S. Miguel, e toda uma vida de descoberta e de intervenção que acabou por me levar à escrita. Se teria sido possível em qualquer outro lugar. Não sei! Talvez, mas nunca como nestas ilhas, embora a Beira Baixa e o seu povo, de onde sou oriundo, sejam igualmente inspiradores.
Como muito bem sabes, está de volta uma espécie de neorealismo, agora denominado de “autoficção”. Onde colocas a tua obra neste ressurgimento que tem as questões sociais em geral como temática ressuscitada após algumas décadas de muitos intelectuais fechados em redomas, digamos, existenciais?
Quero, antes de mais, fazer uma declaração de princípio. Não sou adepto da categorização e compartimentação que académicos e, alguns, críticos fazem da produção poética e literária. Não perfilho dessa forma de olhar a produção artística poética, literária ou outra, pois daí resulta, por norma, uma hierarquização valorativa da qualidade nem sempre fundada em critérios muito objetivos, isto é, a qualidade de um objeto artístico é avaliada por variáveis dependentes de fatores muitas vezes exógenos à própria obra, seja ela literária ou não. Aceito que para os estudos académicos são necessárias algumas referências e a contextualização espacial e temporal, mas daí à categorização, compartimentação e, por consequência, à hierarquização de estilos, obras e autores, já não aceito. Direi mesmo que é abusivo e tem como efeito a colonização intelectual, a uniformidade do pensamento e, por conseguinte, uma visão redutora e unilateral da produção artística olhada e avaliada por padrões eurocêntricos. A história do património cultural material e imaterial da humanidade, das ciências e do pensamento, é anterior às civilizações mediterrânicas que nos servem de referência.
A declaração de princípio responde a uma das questões que colocas. Não situo, obviamente, os meus escritos em nenhuma corrente literária, pelo que já ficou dito e por não ser juiz em causa própria, coisa para a qual não estou, de todo, talhado.
As abordagens poéticas e literárias decorrem da impressão do momento, da contemplação do belo, do impulso para reagir à desgraça globalizada, da reflexão política e social, e têm como objeto a partilha da visão que tenho sobre o que me envolve, o que me perturba, o que me comove, mas também a desconstrução, pelo menos tento, das inevitabilidades que os poderes, bastas vezes, nos tentam impor como se não houvesse alternativas ao aumento dos juros e do custo de vida, ou à guerra onde quer que ela aconteça. As minhas motivações são, como vês, muito variadas, como diversos e aleatórios são os temas sobre os quais escrevo.
Em relação ao eventual “regresso” do neorrealismo, sob a denominação de “autoficção”, não tenho uma opinião acabada e, por outro lado, percebendo que estamos a falar de uma estética literária, o neorrealismo, que tendo feito escola em Portugal, a partir dos anos 40 da centúria anterior dentro do género literário designado por modernismo, contribuiu para a tomada de alguma consciência social de quem acedeu às obras dos neorrealistas nacionais, porém, este movimento literário nunca foi, mesmo entre alguns teóricos marxistas, um estilo que granjeasse o reconhecimento que se atribuiu a outras estéticas literárias, mas como tudo na vida é necessário fazer a contextualização social e histórica que está na base do neorrealismo português para se perceber o seu surgimento e a sua importância como instrumento de intervenção política, mas também saber de que obras e autores falamos e a importância que esta produção literária teve para a já referida tomada de consciência, não só social como política e de classe, ou apenas, o que também é importante, pelo simples prazer da leitura de narrativas com as quais a proximidade espácio-temporal se constitui como um elemento de identificação e motivação para viajar através de uma narrativa.
A autoficção é-nos apresentada como um estilo literário, relativamente recente (1977), e que combina, ou mescla, dois estilos, aparentemente contraditórios, a autobiografia e a ficção. E digo aparentemente opostos pois, na minha perspetiva sempre caminharam juntos. A ficção não se dissocia do autor, a forma e o tema da narrativa de ficção por mais que resultem do imaginário têm sempre uma marca autobiográfica, diria que, as obras de ficção refletem o modo como o autor vê, sente e entende o mundo que o rodeia, o conhecimento dos fenómenos naturais, sociais, culturais, políticos e económicos do seu tempo, o domínio do conhecimento científico e do funcionamento da língua, de entre outros atributos que caraterizam o autor e, por consequência, a ficção é, para mim, uma narrativa que carrega a marca inimitável do seu autor. E se isto se pode aplicar à ficção pode generalizar-se a todos os géneros literários. O autor pode utilizar um estilo literário que o “coloca” num ou outro género, segundo os cânones da literatura, mas a sua poesia ou a sua prosa tem sempre algo de si e do seu tempo.
Mais uma vez fui mais longe do que devia, ainda por cima em territórios que não conheço bem, e, é possível que me tenha perdido pelo caminho, mas daí não vem mal ao mundo.
Voltando à última parte da tua questão. A realidade que nos envolve e nos afeta nunca terá sido de todo abandonada pelos poetas e escritores, a poesia e a literatura foram sempre utilizadas como um instrumento de intervenção ideológica, mesmo por aqueles autores a que te referes como estando enclausurados nas suas redomas existencialistas, ou seja, centrando a sua escrita no individualismo e nas suas angústias, mas também encontrando um sentido para a vida sem atender ao contexto social em que vive e, por conseguinte, desenvolvendo uma certa forma de pensamento que alimenta(ou) quadros ideológicos diferenciados, abordagens mais conservadoras, mas também com muitos registos inovadores.
Para terminar, ainda que de forma inconclusiva, dir-te-ei que as fronteiras, estabelecidas pelo cânone literário, são ténues e fluidas e, como tal, sujeitas a interpretações diversas, como díspares são os públicos/leitores. Para um leitor como eu, importa muito pouco, a catalogação num género literário. Leio por prazer e o meu gosto é eclético, não deixando de ser criterioso.
Até que ponto as tuas opções políticas e ideológicas, publicamente conhecidas, influenciam a tua escrita, se é que alguma vez a influenciaram?
O quadro ideológico e político onde me situo faz de mim o cidadão que sou e não outro e, por conseguinte, todas as minhas atividades se desenvolvem consciente ou inconscientemente dentro dessa matriz, desde logo na escrita. Não o assumir, seria negar os princípios e, os meus não estão à venda. A resposta linear à tua pergunta é: Sim, as opções políticas e ideológicas influenciam a escrita, como a essas opções se fica a dever a minha aventura pelas letras. Não só, mas também por isso.
Quero, contudo, tentar deixar claro que o facto de me situar num quadro político e ideológico não significa, literalmente, que a escrita seja panfletária e partidária. Uma e outra coisa podem e devem dissociar-se.
Os textos que publico não têm como objetivo a colonização do pensamento de quem me lê, porém não é inócua, tem sempre subjacente uma certa forma de ver o mundo, contudo não é hermética, não no sentido da sua complexidade, mas das ideias. Procuro sempre deixar espaços para o leitor que induzam a reflexão pessoal e a construção do seu próprio pensamento, ou seja, como disse Frida Khalo: “Não quero que pense como eu, só quero que pense!”. Eu acrescentaria … e deixe de regurgitar opiniões, tenha a sua.
Não se encontra nas publicações em livro (poesia ou crónica) a apologia ao meu partido. Encontra-se, isso sim, uma certa forma de ver, sentir e analisar o que se passa à minha volta, seja no lugar onde vivo ou no rincão mais remoto do planeta e que resulta, isso sim, da matriz ideológica que me conforma. Nem todos os autores o assumem, mas todos, sem exceções, escrevem em conformidade com a sua matriz ideológica, ainda que não pretendam, com isso, mais do que partilhar o que pensam e como leem o mundo. Dirás que a obra do Pedro Chagas Freitas, é o único autor a que me vou referir, é asséptica e, como tal, sem nenhuma contaminação ideológica, eu diria que a escrita deste autor que se destina ao consumo de massas, é alienante, promove o “status quo” e, quer se queira, quer não queira, essa será a sua marca ideológica. Deixar tudo como estava e lucrar com a inércia que estupidifica.
O que te levou a defender uma tese de mestrado sobre imigração e migrações, muito antes de estas questões estarem diariamente a ser tratadas na nossa comunicação social e nos mais diversos livros?
As migrações fazem parte do meu imaginário. Como já referi cresci no interior continental e cedo me dei conta de como as migrações alteravam a paisagem humana das aldeias e vilas da minha região de origem, cedo percebi as motivações para abandonar o berço e procurar nas mais diversas latitudes e longitudes as oportunidades que a pátria madrasta negava e, também, cedo me dei conta que a circulação de migrantes tinha dois sentidos. A sangria populacional foi de tal dimensão que houve necessidade de deslocar população para suprir necessidades de mão-de-obra quer na zona da grande Lisboa, quer no interior continental, quer também nos Açores. Todos temos conhecimento da vinda de cidadãos cabo-verdianos nos anos 70, ainda antes do 25 de abril, como mão de obra de substituição. Em Lisboa para a construção civil, na Beira Baixa para as Minas da Panasqueira, nos Açores para a pesca. Ficam apenas estas referências, outras existem.
A vinda para os Açores aguçou, ainda mais, o interesse pela movimentação das populações e as histórias de sucesso, mas também de insucesso dos percursos migratórios, que todos conhecemos e nos fascinam e têm servido como fonte de criação literária.
Como vês o contato com os movimentos migratórios acompanham-me desde sempre e essa poderia ser, só por si, a motivação suficiente para me dedicar ao estudo dos movimentos migratórios. A estas vivências acresceram conhecimento e o interesse pelos movimentos das populações, compulsivos ou não, foi crescendo. Iniciei os estudos de Mestrado em Relações Interculturais após duas visitas de trabalho a S. Tomé e Príncipe (2000 e 2001), de onde resultou o interesse pelo aprofundamento por um aspeto da nossa herança colonial que não é muito conhecido e ficou por resolver. Com o fim da escravatura foram transferidas populações de Angola, mas sobretudo de Cabo Verde, para trabalhar nas roças de cacau em S. Tomé e Príncipe, os chamados “contratados” ou “serviçais”. Com o processo de descolonização e independência os “contratados”, em particular os cabo-verdianos, ficaram esquecidos e continuam à espera da viagem de retorno. Não sendo um caso único de uma população que face a alterações políticas profundas passaram de nacionais a estrangeiros. A implosão da União Soviética criou situações semelhantes.
Se é verdade que a situação dos “contratados” se começou a desenhar como o objeto de estudo do trabalho final de Mestrado, não é menos verdade que o facto do objeto de estudo estar distante me levou por outras opções. Cheguei a equacionar, por sugestão do meu professor de Metodologia da Investigação, a hipótese de me dedicar ao estudo da problemática dos cidadãos nacionais a quem é aplicada a pena acessória de expulsão dos Estados Unidos e do Canadá, mas ao tomar consciência da quantidade e diversidade de cidadãos estrangeiros a viver e trabalhar nos Açores, num momento que coincidiu com a génese da Associação de Imigrantes nos Açores (AIPA) da qual sou um dos fundadores, optei por direcionar o estudo para a análise das representações dos imigrantes, face às práticas e políticas de acolhimento e integração dos cidadãos imigrantes, numa Região fortemente marcada pela sua própria emigração.
O trabalho foi concluído em 2003 e foi editado pelas Edições Macaronésia, em 2010.
As opções não dependem, em exclusivo, da nossa vontade e não faço a afirmação com mágoa por ter abandonado a ideia inicial, embora o tema continue a ser aliciante e só não voltei a ele, como a outros, em virtude das responsabilidades partidárias (2005/2017) e de representação política institucional (2008/2016) que assumi.
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BorderCrossings do Açoriano Oriental, 5 de maio de 2023
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